Como
prova de que nem tudo resiste ao tempo, até mesmo um super-herói carece de
transformações. Já se foi o momento em que uma figura com poderes, um
representante da ordem e da segurança, estava livre dos problemas humanos –
mais graves que estes, problemas gerados por humanos em sociedade, na qual
estrutura é uma palavra aparentemente desconhecida.
O caminho, portanto,
apresenta alterações de percurso. O que se vê no mundo cinematográfico não se
distancia mais do mundo de carne e osso. A ficção, nota-se, anda sendo não mais
um universo paralelo, e sim uma pintura – às vezes de cores gritantes – do
palpável, do verossímil. Perfeitamente justificável. Se a sociedade, por
exemplo, crava uma luta diária contra o mal (presente num sem-número de lados),
não é preciso cavar muito para encontrar uma ideia relevante.
Batman:
O Cavaleiro das Trevas Ressurge (The Dark Night Rises,
2012), desde sexta-feira em cartaz em todo o país, prova, não há sequer uma
fagulha de otimismo debaixo de seus argumentos. Se possível, o filme é ainda
mais pessimista que seu antecessor. E, talvez por isso, ainda mais genial.
O ceticismo tem seu
ponto de partida, mais uma vez, pela composição do próprio herói. Amargurado
pela morte de Rachel Dawes, Bruce Wayne (Christian Bale) encontra-se recluso há
oito anos. Estado ainda mais prejudicado pelo final inverídico que a figura do
homem-morcego acarretou com o falso heroísmo de Harvey Dent, para que uma lei
fizesse sentido nos arredores de Gotham City. O retorno de Wayne se dá com o
vilão Bane (Tom Hardy), que toca o caos pela cidade, e possui planos dos mais
perturbadores.
Bane (Tom Hardy)
Batman, que fecha uma
trilogia de respeito, conta com várias fontes de energia. A começar pelo
escalão de atores – alguns exímios. Quem já fazia parte do show, continua nos
trinques (com destaque, neste capítulo, para o fenomenal Michael Caine, em
emocionante atuação). Já os novos integrantes reforçam o resultado com
caprichadas interpretações. Anne Hathaway, na pele de Selina Kyle, a
Mulher-Gato, está fantástica. Assim como Joseph Gordon-Levitt e Marion
Cotillard; ele, notável no papel do policial Blake, ela, super controlada como
Miranda Tate.
Bruce Wayne (Christian Bale) e Alfred (Michael Caine)
Mulher-Gato (Anne Hathaway)
John Blake (Joseph Gordon-Levitt)
Miranda Tate (Marion Cotillard)
Por último, e o maior
dos embates, a visão realista pela qual uma história em quadrinhos é reproduzida.
O que impressiona é o modo como a sensação do ficcional causada pela figura
heroica desaparece. Em seu lugar, uma nova leitura é feita – a de que, em meio
ao caos, nada mais reconfortante do que o sentimento de segurança oferecido por
uma figura enigmática.
Indício
de que todo o pessimismo existente no desenrolar de Batman:
O Cavaleiro das Trevas Ressurge é mais que provável, a tragédia
da qual ele próprio serviu de cenário. O massacre na sala de cinema, no
Colorado, só reforça aquela que é a grande ilação do filme: a paz pode não ser
inatingível, mas está – lamentavelmente – longe do alcance do ser humano.
Fiquem com o trailer do filme!
Por Mahiba Grisolia